«AUTOGOLO
Signal Iduna Park. 19 horas, 45 minutos. Um apito curto que coloca as pernas de 22 em movimento e o coração de milhões aos saltos. Ao fundo, um muro amarelo. Quente, vibrante, impenetrável. Mágico. Verdadeiramente mágico. Um amarelo que ri e que chora. De alegria e de tristeza. Um amarelo que sente e sentido. Infalível. Um amarelo que ama e não falha. Que grita e não se cansa.
Um cai, outro perde a bola. Um lesionado e um fora de jogo assinalado.
Se eu, pequeno e despercebido pedaço de amarelo, vos pudesse dizer algo antes daquele apito curto? Não esperem um ‘boa sorte’. Pedir-vos-ia que sejam aquilo que vos torna únicos. Aquilo que são antes de serem grandes no futebol e de me arrepiarem os braços com os pés. Que sejam humanos e que não levem convosco apenas o talento que deslumbra o amarelo e o azul, o verde e o vermelho. Porque o mundo se rende a vocês. Que levem os valores que fazem de nós humanidade e que honrem o símbolo que têm ao peito. Mostrem o que é garra, paixão, foco e determinação. O que é amor, ambição e gratidão. Mas, acima de tudo, façam jus à palavra que carregam no braço 90 minutos. RESPECT. Mostrem que somos mais do que duas pernas, do que dois pés, do que assistências e do que golos. Mais do que dinheiro, somos humanos. Mais do que vitórias, somos humanidade. Lembrem-se que os vossos pés não espelham apenas a arte do futebol. Carregam ideias. E as ideias pesam tanto como uma bomba. E quando sentirem vontade de insultar, de humilhar ou até mesmo de desistir, mostrem-se verdadeiros campeões. Sejam grandes. Sejam diferentes. Sejam melhores. Sejam humanos.
45+3. O Borussia de Dortmund está a perder por uma bola, em casa. O muro amarelo chora mas não quebra.
Deste lado, aqueles que vos admiram não vos irão falhar. Há um mundo a seguir-vos e há por isso a responsabilidade de serem um exemplo. De contribuírem para a construção de um mundo melhor. Não nos falhem.
Deste lado faremos o mesmo. Estaremos convosco sem que isso implique estar contra os outros. Estaremos cá para defender o amarelo sem odiar o vermelho e o verde. Partilhamos muito com o adversário. Em lados opostos, mas sentimos o mesmo. Em lados opostos, mas o foco é o mesmo. A paixão, a lealdade, e o orgulho estão em cada canto deste estádio. Sairemos daqui de coração cheio, ainda que percam, se derem tudo em campo, se jogarem como os grandes e se forem grandes. Grandes mas humildes, grandes mas honestos. Grandes mais leais. Essa é a verdadeira grandiosidade. Este é o verdadeiro futebol. O verdadeiro desporto. Ético e livre. Acessível a todos. Sem medos.
Grande penalidade convertida por Aubameyang e golo de Bartra. O Dortmund vence por 2-1.
Ao fundo, um muro amarelo. Um uníssono e longo aplauso dirigido aos adeptos adversários que souberam ganhar e perder. Um aplauso ao Dortmund que soube Ser. Humano.
Que grande metáfora de vida é o futebol, cheia de ataques e defesas. De autogolos e golos do meio campo que nos levam a uma só final: sermos humanamente campeões.»
Texto premiado com o 1.º lugar, a nível nacional, no Concurso literário Ética na vida e no desporto.
Texto premiado com o 1.º lugar, a nível nacional, no Concurso literário Ética na vida e no desporto.
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