sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Palestra: Filosofia no Smartphone







 
                       






 

O Prof. Doutor Paulo Alexandre e Castro, dinamizou para três turmas do ensino secundário - 10º CLH, 11º CT3, 11º CT4 -, o workshop «Filosofia no Smartphone».

A interrogação filosófica «as máquinas são inteligentes?» subjacente ao cartaz, serviu de mote para a abordagem de  outros problemas profundamente filosóficos. Utilizando no seu discurso uma ironia, assaz peculiar, o docente da Universidade do Minho teceu uma acutilante crítica à sociedade contemporânea. Uma sociedade sedutora, criadora de falsas necessidades, que impele o ser humano ao consumo desenfreado, privando-o da sua consciência crítica. Uma sociedade que subverte a relação do homem com a máquina («não somos donos, somos escravos»),  subverte a relação do homem consigo mesmo. Por exemplo, temos o «imperativo de ser feliz» e, deste modo, a «felicidade» publicitada e oferecida é extrínseca ao homem, ao invés de lhe ser intrínseca. Daí a alienação reinante e a nobre tarefa da Filosofia em educar e elevar o pensamento, em auxiliar o homem na saída da sua «menoridade mental».

Após a sessão, alguns alunos (11º CT3) registaram os seus pensamentos, destinados ao palestrante. Eis algumas dessas reflexões:
 
«Gostaria de agradecer ao Dr. Paulo Castro, pois o senhor instigou-me a pensar, abriu a minha mente para a realidade do mundo contemporâneo, para a minha alienação e para a minha comodidade existencial. Honestamente, não pensava que existiam tantas formas de manipulação no nosso quotidiano.»
Ana Margarida Cardoso
 
«A questão 'Por que é que o telemóvel é inteligente?' e a afirmação 'tudo à nossa volta parece estar a ficar inteligente' fizeram-me reflectir sobre a inteligência do ser humano.Estaremos a ficar menos inteligentes para nos tornarmos tão dependentes destes equipamentos?»
Cátia Teixeira
 
«Achei a sessão muito interessante, devido à maneira como abordou o tema 'Filosofia no smartphnone'. Gostei muito da ironia, principalmente quando disse que se pensassemos que íamos ouvi-lo falar de smartphones, estavamos enganados. E a sessão foi muito enriquecedora porque fez com que reflectissemos que as coisas só aparentemente são banais.»
Ana Cunha
 
«Gostaria de dizer ao Dr. Paulo Castro que a sua palestra foi fantástica. Sem dúvida, uma das melhores a que assisti e que me permitiu ter outra noção da realidade, de uma realidade que eu desconhecia.»
Bruno Cerqueira
 
«Gostaria de poder dizer-lhe que as palavras do Dr. Paulo Castro foram sábias e pertinentes no que toca à sociedade contemporânea. Para além de abordar temas com os quais temos contactado na disciplina de filosofia e referir a sua importância e utilidade, abordou um tema fulcral nos dias de hoje: a importância da  filosofia como arma para vencermos as adversidades que a sociedade nos apresenta, algo muito importante para o nosso futuro.»
Diana Silva
 
«Sinto a necessidade e o dever de dizer que as estratégias que o orador utilizou para prender a atenção do auditório foram de facto benéficas. Foi uma intervenção muito interessante e levantou questões que já me tinham ocorrido. Concordo com grande parte da sua posição relativamente a variadas vertentes do assunto. Apreciei, principalmente, a parte do discurso referente ao 'imperativo da felicidade' na medida em que fora um pretexto de reflexão acerca do assunto.
No entanto, discordo parcialmente da sua posição porque penso que generalizou em demasia. Penso que há  pessoas que não procuram a felicidade como um dever, mas como, de facto, uma possibilidade: algo que se pode alcançar, não sendo uma regra. Penso, ainda, que uma apreciável parte da sociedade vive só porque é um ser vivo, isto é, sobrevive, não contribuindo para a evolução ou progresso da mesma.»
Alice Cardoso

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A música dos alunos da BE

Para o filósofo Schopenhauer a música é a mais elevada de todas as artes. Por isso, a BE lembrou-se de perguntar a alguns alunos do 12º ano que banda gostariam de ver no blogue. Ouçamos a sua proposta:





Poderás registar as tuas sugestões musicais nos «comentários».

Concurso

 



REGULAMENTO DO CONCURSO





 

Entidade promotora: Centro de Investigação em Matemática e Aplicações da Universidade de Évora.

Objetivos

Este concurso consiste na escrita e ilustração de um conto que envolva conteúdos matemáticos e tem como principais objetivos fomentar hábitos de leitura e de escrita nos alunos, assim como promover a articulação entre diversas áreas do saber, desenvolver a capacidade de expressão e comunicação, estimular a imaginação.

Destinatários

Todos os alunos do 7º ao 12º anos. Os concorrentes terão que apresentar contos produzidos individualmente ou em equipa e em Língua Portuguesa. Cada equipa deverá ser constituída até ao limite máximo de quatro participantes. Cada concorrente – individualmente ou em equipa - poderá participar com apenas um conto.
Cada concorrente poderá concorrer nestas categorias:
3.ª categoria ou categoria A3 – um concorrente do 7.º, 8.º ou 9.º ano de escolaridade.
4.ª categoria ou categoria A4 – um concorrente do 10.º, 11.º ou 12.º ano de escolaridade.
7.ª categoria ou categoria B3 – dois a quatro concorrentes dos 7.º, 8.º ou 9.º anos de escolaridade.
8.ª categoria ou categoria B4 – dois a quatro concorrentes dos 10.º, 11.º ou 12.º anos de escolaridade.
A participação no concurso é da responsabilidade de um professor da escola do(s) concorrente(s).

Jurí e avaliação

Os contos serão apreciados por um júri, que integrará especialistas das áreas de matemática e de português. Na avaliação dos contos serão valorizados os conteúdos matemáticos, o domínio da língua, a originalidade, a criatividade, o encadeamento lógico narrativo, entre outros.

 Entrega dos trabalhos e inscrição no concurso

O conto, a ficha de inscrição e o desenho ilustrativo (completamente preenchidos), deverão ser enviados, pelo professor responsável, em papel e em formato digital até ao dia 31 de janeiro de 2014. Para mais informações consulta o site da
Universidade de Évora.

Prémios

Os melhores contos submetidos a concurso serão compilados num livro, intitulado com o nome do concurso.
 


DESAFIA OS TEUS CONHECIMENTOS E A TUA IMAGINAÇÃO!
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Filosofia no Smartphone

 

«Só se ensina filosofia no ágora, num jardim ou em casa. A cadeira é o túmulo do filósofo, a morte do pensamento vivo, a cadeira é o espírito enlutado.»

                                                                                                      Cioran

 
 

No âmbito da comemoração do dia Mundial da Filosofia, os professores de Filosofia da ESA em parceria com a Associação Portuguesa de Ética e Filosofia Prática convidam o Prof. Doutor Paulo Castro, da Universidade do Minho, para dinamizar o workshop «Filosofia no smartphone». Dia 28 de novembro, pelas 10h40, no pequeno auditório. 
 

sábado, 23 de novembro de 2013

Convite


 
 
A BE associa-se, mais uma vez, a uma iniciativa promovida por uma ex-aluna do Curso de Artes Visuais da ESA.
Bárbara Cruz frequenta o terceiro ano do Curso de Comunicação e Multimédia na Universidade de Trás-os-Montes.
A exposição será inaugurada hoje, pelas 22h30,  no Largo Café/Amarante e estará patente ao público até ao dia 21 de dezembro.
A criatividade e o dinamismo intrinsecos a Bárbara Cruz transformam esta exposição num local geográfico e num espaço mental de passagem obrigatória. 
Afinal, como preservar a (nossa)  humanidade se não conservarmos  um «Espaço para a alma»?
 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

GATILHO

Foi despoletado o n.º 2 do Gatilho.  A BE não ficou indiferente ao lançamento deste boletim e publica a entrevista  prometida no post do dia 22 de outubro.
As duas primeiras questões são respondidas pelo mentor do projeto, Gilberto Pinto (G.P.), as restantes pelo Diogo Cardoso (D.C.). Ambos são ex-alunos da ESA! Curioso... 


Como surgiu o projeto?

G.P.: O projeto nasce da nossa vontade de fazer alguma coisa pela nossa cidade, com o objectivo de promover os artistas da terra. Visto que temos um grande número de jovens talentos, mas com dificuldade em dar a conhecer à população os seus projectos, e nós estamos cá para isso. Queremos que as pessoas, que através de exposições, concertos, workshops, etc, que vamos organizar, tenham a oportunidade de vir, apreciar e debater, todos os trabalhos apresentados pelos nossos artistas.

O nome «Gatilho» parece evocar os clássicos westerns do cinema americano. Há alguma similitude? Quem batizou o projeto?

G.P: Não, não tem nada a ver com os clássicos que refere. Inicialmente o nome do projecto era Rastilho de Amarante, mas como já existe um projecto com o mesmo nome nós obrigamo-nos a mudar. Então foi colocado no facebook um pedido, a todos que quiseram participar, para sugerirem um nome, queríamos que fosse idêntico ao inicial, no sentido que nós demos ao projecto, ou seja, de “propulsionar” a cultura artística na cidade de Amarante, então eis que surge o nome Gatilho O projecto foi baptizado por mim,  antigo aluno da ESA. Frequentei também o curso de Arte e Design, e agora trabalho como designer gráfico na área da publicidade.

O futuro é imprevisível, todavia não é isento de expectativas. Enquanto jovem artista, o que esperas de ti? E dos outros?

D.C.: Aquilo que espero de mim, é não perder a vontade de trabalhar na área das artes. Por vezes, surgem imprevisibilidades bastante diferentes do que estamos habituados a lidar, e isso pode provocar um efeito negativo e desmotivador. Mas também pode provocar o contrário. O que interessa, é olhar para tudo como uma forma de conhecimento. O conhecimento das coisas boas e das coisas. A experiência depois dará os frutos.
Aquilo que eu espero dos outros, sinceramente, é que tenham um conjunto de ética e valores, e que os pratiquem com honra e dignidade.
 
Na qualidade de  ex-aluno do curso de Artes Visuais, qual o impacto e  a importância do trajeto trilhado pela escola secundária/3 de Amarante?

D.C.: Na verdade, o impacto foi tremendo. Tive a oportunidade de conhecer professores que são artistas plásticos e que me transmitiram conhecimentos que me colocaram num patamar diferente ao de outras escolas. Até mesmo de escolas como Soares dos Reis, António Arroio e a Arco. Ao afirmar isto não estou a dizer que era melhor. Simplesmente tinha noções plásticas diferentes, porque tinha professores no secundário diferentes.


Descreve, sucintamente, o teu percurso académico pós ensino secundário.

D:C.: Pós ensino secundário, fui estudar cinema para a escola superior artística do Porto, não tendo terminado. Depois mudei para artes plásticas nas Caldas da Rainha onde concluí a licenciatura.

Que sugestões/conselhos poderias veicular aos jovens alunos do Curso de Artes Visuais da ESA?

D.C.: Normalmente não gosto de dar conselhos porque não me acho bom a fazer isso. Mas sinceramente, acho que a melhor coisa que os alunos da ESA podem fazer é, antes de mais, pensar o porquê de frequentar o curso de artes. Depois devem pensar o que gostavam de seguir. E depois deviam começar já a provocar a criatividade. Quem quiser ser artista aos 17 ou 18 anos de idade vai a tempo claro, mas se começar já criar penso que podem fazer a diferença entre o ser bom e o ser espectacular no futuro. Metam-se nos cafés, na rua, na escola, nos parques, no museu e mostrem o vosso trabalho!  

Obrigada.

Missiva de uma aluna a José Saramago

                       

«Os políticos dificilmente pedem desculpa às pessoas a quem de alguma maneira ofenderam.»

                      José Saramago



«Estou certa que os Portugueses se sentem ofendidos mas, José Saramago, tu eras o único que tocava no essencial da questão. Depois, a lei da vida fez com que fosses desassossegar para outra dimensão e o que por cá ficou foram cidadãos ofendidos e políticos incompetentes. E agora perguntas-te: o que leva uma simples miúda com pouco mais de dezasseis anos a escrever palavras desta natureza, sobre uma realidade tão dura mas tão real?
A resposta é simples e rápida: os dias em que vivo fizeram com que crescesse mais depressa do que aquilo de que eu gostaria, e se afirmas que aprecias leitores desassossegados, podes dar-te por satisfeito porque eu estou desassossegada. A única coisa que resta é a esperança de dias melhores e a de um pedido de desculpas, no qual eu não acredito. E não acredito porque a política democrática hoje não existe, aliás nunca existiu no nosso país. Sempre fomos mal governados. O nosso sistema político atual varia um pouco entre os pobrezinhos e os bons alunos da Troika.
Talvez seja demasiado direta, mas é o que sinto. À minha volta vejo de tudo um pouco e o que me deixa mais revoltada é ver a miséria de tantos, num país supostamente desenvolvido, numa sociedade europeia e no século vinte e um. Os culpados por esta miséria andam por aí á solta e vivem bem. Ninguém disse que a vida é justa. O jeito que dava a cegueira branca que criaste no teu Ensaio sobre a Cegueira, fazia-lhes bem refletirem no teu branco. Mas esses indivíduos nunca irão perceber a mente de quem pensa com clareza. Enquanto espero pelos tais dias melhores, que ainda vêm lá longe, eu desassossego para te relembrar.
Saramago, oh tão nosso Saramago, o bem que nos fazes, o quanto te veneramos, o teu nome será relembrado pelos séculos futuros da história deste pequeno país à beira-mar plantado que merece sem dúvida um enorme pedido de desculpas!»


                                                                                                  Débora Gonçalves, 11ºCLH2

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Elogio ao Tâmega





Rio Tâmega


 
 
Correntes de água
Que transmitem tranquilidade,
Característica do rio Tâmega
O rio da minha cidade.
 

Rio este
Que testemunhou vitórias,
Rio este
Que leva água,
Mas deixa memórias.

 
Este rio
Chamado rio da esperança
Já testemunhou uma guerra
Guerra esta, entre Portugal e França.

 
O povo amarantino
Esperava com temor
Pois a maioria esperaria
Um cenário de horror.

 
O rio Tâmega
Espelha esta história,
O dia em que os amarantinos
Diante dos Franceses gritaram "vitória".

 
Este rio leva água
Mas deixa muitas memórias,
Memórias que para muitos deixam saudade
Este é o rio da minha cidade.

 
 

António Mendes 12º PTC

sábado, 16 de novembro de 2013

«O desassossego será uma forma de romper todos os cercos.»



Neste dia em que o Nobel da Literatura Portuguesa faria 91 anos, a BE deixa o início do seu belíssimo discurso perante a Real Academia Sueca, em Estocolmo. Leiam-no na íntegra.

« De como a Personagem Foi Mestre e o Autor Seu Aprendiz

Terça-feira, 8 de Dezembro de 1998

O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo. Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom carácter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha-pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável. Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de ferro que accionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: “José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira”. Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para toda as pessoas da casa, a figueira. Mais ou menos por antonomásia, palavra erudita que só muitos anos depois viria a conhecer e a saber o que significava… No meio da paz nocturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direcção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago, como ainda lhe chamávamos na aldeia. Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: “E depois?”. Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas. Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a ciência do mundo. Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tigela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranquilizava: “Não faças caso, em sonhos não há firmeza”. Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: “O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer”. Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada. Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com porcos como se fossem os seus próprias filhos, gente que tinha pena de ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver.
Muitos anos depois, escrevendo pela primeira vez sobre este meu avô Jerónimo e esta minha avó Josefa (faltou-me dizer que ela tinha sido, no dizer de quantos a conheceram quando rapariga, de uma formosura invulgar), tive consciência de que estava a transformar as pessoas comuns que eles haviam sido em personagens literárias e que essa era, provavelmente, a maneira de não os esquecer, desenhando e tornando a desenhar os seus rostos com o lápis sempre cambiante da recordação, colorindo e iluminando a monotonia de um quotidiano baço e sem horizontes, como quem vai recriando, por cima do instável mapa da memória, a irrealidade sobrenatural do país em que decidiu passar a viver. (...).»
 

Uma história desassossegante


«a maior flor do mundo»

 
Ontem foi dia de sessão no Clube de Cinema. A curta-metragem de animação - adaptação do conto de José Saramago -, serviu de pretexto de reflexão aos alunos  do 8º A, 8º D e 7º D. Após a visualização, os alunos foram respondendo a questões colocadas pela promotora do clube (Elsa Cerqueira) e fizeram intervenções interessantes, genuínas e pertinentes.

 


 
No final da análise, cada aluno foi desafiado a escrever uma mensagem ao escritor sobre o conto. Eis algumas dessas mensagens:
 
«Eu gostaria de lhe dizer que é um escritor soberbo e que esta história que nos foi mostrada é uma prova disso, pois José Saramago ultrapassou os medos que tinha e conseguiu escrever uma história maravilhosa.»
Nuno Carvalho, 8º D
 
«Não é o tamanho das coisas que é importante mas sim o significado que essas coisas têm para nós.»
Paulo Ferreira, 7ºD
 
«Gostaria de lhe dizer que foi um grande escritor e que com esta história me incentivou, ainda mais, a lutar pelos meus objectivos e a nunca desistir. E se acha que não conseguia escrever histórias para crianças, está enganado. É um excelente escritor.»
João Carvalho, 7º D
 
«Eu adorei este filme, esta história. A mensagem que eu gostaria de dizer ao autor, José Saramago, é que (...) nunca será esquecido.»
Ana Carvalho, 8º D
 
«Aprendi que não é o tamanho que importa mas sim o interior.»
Inês Pinto, 8º A
 
«Gostei desta história porque na história houve um ato de bondade. E devemos ajudar sempre os outros sem querer nada em troca.»
Sara Coelho, 8º D
 
«Eu gostei desta curta-metragem. Realmente nunca devemos desistir daquilo que queremos, devemos lutar e superar todos os obstáculos.»
Joana Nogueira, 8º A

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

DESASSOSSEGUEM!

 

                                                     

         PROGRAMA DOS DIAS DO DESASSOSSEGO

 

Por toda a escola: FRASES QUE DESASSOSSEGAM.
 
Frente à biblioteca / Pavilhão Central: PLACARD DO
DESASSOSSEGO.
   
Biblioteca: DECORAÇÃO INSPIRADA NA FUNDAÇÃO SARAMAGO.

 
Biblioteca: exposições: OBRAS DE SARAMAGO EM PORTUGAL
E NO ESTRANGEIRO.
   
Ao longo dos dias 14, 15 e 16, propõe-se que TODA A COMUNIDADE
ENVIE PARA O ENDEREÇO DA BE CITAÇÕES DE SARAMAGO
QUE DESASSOSSEGAM; serão publicadas no blog Ler porque sim

  
Clube de Cinema:
 
Quinta-feira8:30/10:30: projeção de “JOSÉ E PILAR
(12ºCT4+CSE; 12º CLH; 12ºAV);

Quinta-feira14:40: projeção de “JOSÉ E PILAR”  
(comunidade escolar);

Sexta-feira11/30: projeção de “A MAIOR FLOR DO MUNDO
(8ºA, 8ºD, 7ºD).

 
EM TODAS AS AULAS - Reflexão sobre uma das frases espalhadas
pela escola. 

NAS AULAS DE PORTUGUÊS (Secundário,de acordo com os
programas), sempre a partir de Saramago: redação de páginas de
um diário, autobiografia, curriculum vitae, conto, retratos,etc.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

O Desassossego continua...

 Reflexão (parcial) de Ana Margarida Cardoso do 11º CT3

 
 
 
 
 
 
 
«O 'Ensaio sobre a Cegueira´'é uma obra que nos recorda a "responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam.” Num livro onde a literatura e a sabedoria se cruzam, Saramago obriga-nos a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, reaver o afeto diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: “uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.”
Antes de falar sobre a cegueira para a qual Saramago nos remete, será importante compreender a citação que se encontra na epígrafe do livro. Esta frase é uma proposição chave visto que sem ela não conseguiremos descodificar a mensagem de Saramago: 'Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara'.
Serão os conceitos olhar, ver e reparar sinónimos? Para algumas pessoas talvez, mas para Saramago, não. Para o autor, a visão divide-se em 3 patamares: olhar, ver e reparar. Olhar é o primeiro patamar, o mais simples, implicando, por isso, uma panorâmica geral, ou seja olhar para um determinado espaço sem, contudo, notar sobre nenhum aspeto em particular. Ver obriga a fixar a vista em algum aspeto que sobressai durante o “olhar” exigindo algum grau de descodificação ou capacidade de interpretação. E o último patamar é reparar. O aspeto focado no patamar anterior é, além de analisado e dissecado, retido na memória a longo prazo, A memória é permite a identificação, ligação e numa etapa final a compreensão das situações, por analogia, proporcionando as adaptações do comportamento necessárias à mudança.
E através desta frase, a leitura de 'Ensaio sobre a Cegueira' faz com que olhemos, vejamos e reparemos numa humanidade que sofre um colapso temporário, o qual se manifesta numa estranha cegueira que não tem relação com qualquer tipo de anomalia física, "uma estranha cegueira branca” que impede o discernimento, impossibilita a distinção das coisas: a verdade da mentira, o bem do mal, o justo do injusto. Trata-se de uma incapacidade de discernimento que dilui os limites que separam o lado positivo e negativo, aumentando a zona de transição, um estado de incerteza que leva à desorientação. Trata-se de uma ocorrência de teor apocalíptico que se concretiza numa mutação repentina, traz o caos ao quotidiano. (...)
Esta luminosidade seria o paliativo da sociedade de consumo onde os media vendem uma ilusão glamorosa, baseada em mensagens douradas e vazias de conteúdo, com o objetivo de expurgar toda uma população de capacidade de raciocínio e sentido crítico.
Durante o tempo em que ficam sem visão, o desespero dos personagens faz com que alguns deles usem artifícios sujos para conseguir sobreviver. A partir disso, observamos situações como segregação de grupos, abuso de poder pelos mais fortes, disputas por comida, ganância, traição, violência e abuso sexual.
E quais dessas situações descritas acima não são comuns no nosso quotidiano? Todos esses problemas citados são problemas da sociedade em que vivemos. Frequentemente lidamos com abuso de poder das autoridades, desigualdade social, em que parte da população mundial vive abaixo da linha de pobreza e nem se quer faz uma refeição por dia, todo o tipo de violência, física, moral ou sexual. Sem contar os diversos tipos de preconceitos que geram a segregação de muitas pessoas.
Nada do que os personagens de Saramago sofrem no livro é estranho para nós. Na verdade, o autor fala da nossa cegueira quotidiana em relação a crise de nossa própria sociedade.(...)
A cegueira dos olhos é apenas uma metáfora para a nossa verdadeira cegueira mental. A perda de um dos sentidos aparece como pano de fundo para fazer um retrato da nossa sociedade: individualista, oportunista, chantagista, preconceituosa e, por vezes, solidária. A única diferença é que sem a visão, essas características não se discriminariam por classe social ou raça.(...)
O Ensaio sobre a Cegueira é um paradoxo através da cegueira conseguimos ver quem realmente somos. Esses cegos chegaram ao “fundo do poço” de onde puderam ver surgir as suas fraquezas, a sua arrogância, a sua intolerância, a sua impaciência, a sua violência. Mas assistiram também à sua própria força, à sua solidariedade, à sua generosidade, ao seu espírito revolucionário e à revisão de seus próprios preconceitos. Este livro é na verdade um ensaio sobre visão do outro, das relações humanas, das linguagens, da verdade, do poder …
O pensamento dominante no final do livro é que na realidade, ninguém cegou realmente e que, a humanidade, salvo raríssimas exceções, continuará cega ou atravessará períodos em que a incapacidade de discernimento pela alienação a atingirá com a mesma violência das grandes catástrofes naturais.»
 

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