A Ana Rita Félix (9º ano, turma D) presenteou a BE com uma das manifestações mais elevadas do ser humano: um texto de escrita criativa. Leiam:
Hoje
Palmilho
a mesma rua, mas a mesma rua não parece a mesma. Estendo a mão e apanho uma
flor, caída, destroçada, ignorada pela chuva que lhe cai. Também assim são as
pessoas em redor: tristes, cinzentas, amarguradas de tão grande solidão. E a
mesma mão sacode a terra húmida da ponta dos dedos e abre a porta da biblioteca,
arrepiada, inflamada, encorajando o aquecimento do coração. Com
um estridente silêncio, a cadeira arrasta-se para me proporcionar conforto e
acena-me para o exterior. O livro salienta-me a saudade, que rapidamente puxa
uma nova cadeira, tomando lugar a meu lado.
Que
é feito das gargalhadas, do sorriso, da vontade de viver? Observo os jovens que
passam, reparo nos seus olhos, nos seus lábios que outrora esboçaram sorrisos e
palavras ternas, e que agora cospem segredos lucidamente loucos, que lhes
consomem o contentamento.
Era
tão mais fácil chegar ao céu quando eramos crianças, ajeitas as nuvens e
acariciar o arco-íris, pensando que a Lua, mais tarde ou mais cedo, nos
serviria para confecionar uma sandes. E seria tão deliciosa!
Mas
agora a juventude quebra sonhos e fantasias, arranja confusões e oferece
melancolias, vira o dia do avesso. Amanhã é outro dia, amanhã é um novo começo.
E todos andam tristes, não por fora, mas por dentro e assobiam risos sérios,
discursos eloquentes.
Fecho
os olhos, respiro o ar quente. Recomeço o livro aberto, esqueço a realidade,
entro num mundo fantasticamente calmo, escuro e brilhante. Mais tarde regresso,
tentada a permanecer nesse mundo para sempre.
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