«Semáforo ou Senhora? Eis a questão
O semáforo está vermelho, o que significa que o meu veículo não pode avançar. São as leis do código da estrada e simultaneamente do código da vida, e uma vez que são leis é impertinente desrespeitá-las. A ânsia pelo verde dissolve-se facilmente quando se inicia um processo de introspeção e nos apercebemos que na verdade não há nada melhor que aquele vermelho.
Num dado percurso que fiz durante a minha ainda curta e insignificante vida fui ordenada a parar, e foi nessa paragem que conheci alguém, cujas características e personalidade jamais esquecerei. Inicialmente, senti-me reticente, temi, analisei, apresentei-me e posteriormente fui irradiada por um sentimento de veneração incomparável. Até esta paragem, neste preciso local e momento, nunca havia sentido tanto respeito e tanta cautela num semáforo. Porém, este é um semáforo peculiar. É simplesmente diferente. É certo que tem algumas funções em comum com um verdadeiro semáforo, avisa todos os veículos que a prudência, a moderação, a razoabilidade e a reflexão, são elementos fundamentais para fazer uma viagem segura e sem lacunas adicionais.
Estaria a ser medíocre se não esclarecesse a analogia que me ocorreu, no momento em que questiono a forma como o cérebro e a mente interagem. O verdadeiro semáforo aqui em causa, que já anteriormente e num outro contexto cognominei “Senhora Filosofia” pareceu-me ser o título ideal. Um semáforo e a senhora filosofia à partida nada têm em comum, mas toda esta ideia provem de um sentimento unívoco, o respeito, e a única certeza que tenho é que nunca estarei suficientemente apta para arrancar e esquecer. Até hoje nunca conheci ninguém que mesmo à distância me fizesse travar tão perspicazmente, porém, este é um momento diferente, começo a perceber quais são as minhas verdadeiras paixões e tenho a Senhora Filosofia como mentora de uma dessas paixões, o que faz de mim um veículo extremamente orgulhoso. Sou humilde ao ponto de assemelhar-me a um veículo, mas incorporando um, sinto-me honrada por ter o direito e ao mesmo tempo a obrigação de parar neste semáforo e aprender tudo aquilo que ele/ela tem para me ensinar. É lógico que a Senhora Filosofia é muito mais que um semáforo, mas fazendo esta comparação e tornando todos os seus aprendizes de filósofos em veículos, atrevo-me a questionar “Quantos veículos não nutrem o mesmo sentimento que eu? ”
Acredito que centenas deles estariam à disposição de retomarem os seus lugares nas enormes filas de trânsito só para terem a oportunidade de visualizarem mais uma vez a tonalidade daquele belo encarnado. Todavia, o tempo passa e os melhores momentos ficam na memória, com a certeza que não é possível reviver o passado. Enquanto a minha oportunidade não se dissipou e ainda tenho o privilégio de me considerar um veículo que respeitou o sinal e parou para aprender filosofia, faço um pouco mais que isso. De forma minuciosa analiso delicadamente este semáforo, e mesmo tendo a certeza que cairei no seu esquecimento, nunca mais serei indiferente a um pensamento filosófico. E em todas as paragens que farei nos verdadeiros semáforos, irei relembrar o texto que escrevi quando ainda era miúda, sobre uma das pessoas mais extraordinárias que tive a honra e o prazer de conhecer, a minha eterna professora de filosofia.
Um(a) aluno(a)»
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P.s.: Apesar da carta estar assinada pelo(a) seu/sua autor(a), a BE decidiu preservar a sua identidade.
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