terça-feira, 19 de janeiro de 2016

"Sôbolos Rios que Vão", de António Lobo Antunes apreciado por Inês Cerqueira (12.º CT3)


Apresentamos-te, hoje, "Sôbolos Rios que Vão", de António Lobo Antunes


Sinopse

Entre os últimos dias de março e os primeiros de abril de 2007, depois de uma operação grave, o narrador, entre as dores e a confusão provocada pela anestesia e pelos medicamentos, recupera fragmentos da sua vida e das pessoas que a atravessaram: os pais e os avós, a vila da sua infância, a natureza da serra os amores e desamores. Como um rio que corre, vamos vivendo com ele as humilhações da doença, a proximidade da morte, e o chamamento da vida.
Leya [Em linha]. [Consult. 15 fev. 2016]



Acerca desta obra, aqui fica a opinião de Inês Cerqueira, do 12º CT3:

"Em Sôbolos Rios Que Vão, Lobo Antunes fala-nos de um ouriço, um ouriço que é um cancro nos intestinos do pequeno Antoninho.
Este livro é, no meu ponto de vista, a demonstração do caráter genial do escritor e demonstra que a sua capacidade criativa vai mais além, além da guerra. A obra é considerada como a pior do autor, por ser muito autobiográfica, dado que Lobo Antunes sofreu, há uns anos, de um cancro. Ao escrever em fragmentos, misturando a realidade vivida pelo doente com as suas memórias, é permitido ao leitor que se aproxime bastante da realidade daquela situação, do ponto de vista daqueles que, devido a uma doença, se encontram hospitalizados, e não sabem mais que pensar e sonhar, pensar nos tempos em que eram livres, reviver memórias de tempos alegres que esperam que renasçam.
Esta obra foi uma das que mais gostei, por ser algo diferente, por apresentar uma estrutura muito distinta daquela a que, amantes ou não de livros, estão todos habituados. A sua composição fragmentada maravilha-me, uma vez que as frases surgem soltas e aleatoriamente, como memórias do doente, espasmos que findam quando a dor regressa.
Na minha opinião, é necessário que se faça uma leitura atenta e com o coração disponível para receber esta (para mim) comovente obra e toda a mestria de António Lobo Antunes.
“De repente, percebi que sou mortal”, proferiu Lobo Antunes. Ao ler este livro fiz das palavras do escritor minhas e consegui, embora dificilmente e muito superficialmente, colocar-me na pele daqueles que possuem ouriços e lentamente fui entristecendo, pensando como o mundo é cruel para alguns, mas também sentindo-me agradecida por ainda não terem nascido ouriços em mim nem nos meus “castanheiros” parentes. Penso que é através da leitura de livros como estes que damos valor à saúde e compreendemos melhor como é a vida de um hospitalizado e a sensação de se estar em risco de vida.
Interpretei esta obra também de outra forma, talvez tenha ido longe demais, mais abstrata e simbólica. A simbologia do ouriço como dor pode ser mais abrangente, pois nem todos os ouriços são cancro e todos nós possuímos ouriços na nossa mente. É como se a nossa alma se equiparasse a um castanheiro do qual, ao longo da nossa vida, vão nascendo ouriços e os quais vamos tentando esquecer com estes fragmentos de frase, até que a morte se apodere de nós e leve o castanheiro e os ouriços com ela.
Sôbolos Rios que Vão porque a vida é como um rio que corre sem parar e que aos poucos vai desaguando no horizonte infinito, perdendo-se e, por vezes, naufragando. Porque, no fim de contas, somos todos iguais, todos mortais."

Este é um dos livros verdadeiramente especial que espera por ti, na tua Biblioteca! 

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