sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A ler...Saramago

 (...) A empregada devolveu o troco. Aqui está, disse, espero que vá gostar dos nossos concertos, suponho que é a primeira vez, pelo menos não me lembro de a ter visto aqui, e olhe que tenho um excelente memória para fisionomias, nenhuma me escapa, também é certo que os óculos alteram muito a cara da gente, sobretudo se são escuros como os seus. A morte tirou os óculos, E agora que lhe parece, perguntou, Tenho a certeza de nunca a ter visto antes, Talvez porque  a pessoa que tem diante de si, esta que sou agora, nunca tivesse precisado de comprar entradas para um concerto, ainda há poucos dias tive a satisfação de assistir a um ensaio de uma orquestra e ninguém deu pela minha presença. Não compreendo, Lembre-me para que lho explique um dia, Quando, Um dia, o dia, aquele que sempre chega. Não me assuste. A morte sorriu o seu lindo sorriso e perguntou, Falando francamente, acha que tenho um aspecto que meta medo a alguém, Que ideia, não foi isso que quis dizer, Então faça como eu , sorria e pense em coisas agradáveis(...)

                                                           As Intermitências da Morte, José Saramago

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