“Só vivemos
duas vezes”, foi publicado recentemente (Março de 2011) pela Guerra e Paz,
Editores, S.A. e tem como autora Ana Isabel Martins Silva, uma principiante no
mundo da escrita que quis comover e encorajar os leitores da sua obra graças ao seu testemunho.
No livro, é-nos, retratada da forma mais verdadeira e
real a vida da autora que, na primeira pessoa, nos dá o próprio testemunho, aos 14 anos, em plena adolescência, ao ter sido confrontada com uma terrível
doença – um linfoma.
Ana, a autora, vivia em Montemor-o-Novo com a sua mãe,
sendo que o pai se encontrava na Suíça tentando ganhar dinheiro para sustentar
os estudos da irmã mais velha de Ana – a Filomena, que havia ingressado no
ensino superior.
Ana era uma criança normal, cheia de energia e com
resultados escolares excelentes. Sem ser previsível, aos poucos essa normalidade
sofre algumas quebras. Um dia, subitamente, aparecem os sinais da sua doença.
Surge-lhe no lado direito do seu pescoço um enorme e escuro inchaço e é aqui
que começa o pior ano da sua vida, que Ana descreve deste modo: “O ano de 1988
entrou de mansinho. Frio e chuvoso. Estava longe de imaginar que este iria ser
o ano que mudaria toda a minha vida.”
Ana é posta à prova e terá de lutar contra um cancro.
Ao longo da sua luta vê partir muita gente – inclusive a sua avó paterna.
Apesar disto, mostra-nos a sua força e coragem e deixa a prova de que quando
se quer e se tem força de vontade, dum jeito ou outro, tudo se consegue, pois,
enquanto luta, Ana, estuda e consegue licenciar-se no Instituto Superior de
Economia e Gestão de Lisboa.
Ao percorrer as páginas deste livro deixamos
cair a mais sentida lágrima e terminamos largando o maior sorriso. Percebemos
que ninguém merece aos 14 anos uma cruz assim, e do mesmo modo, não é permitido
a alguém com esta idade desistir de lutar pela vida, e Ana luta, luta até ao
fim! E vê a sua luta ser recompensada quando consegue ter a enorme felicidade
de trazer um filhote ao mundo. E esse é um grande exemplo de vida!
É uma história real, dura, com muitas lágrimas,
sofrimento, tristeza, dúvidas, mas acima de tudo uma história de coragem, em
que se prova que a palavra "cancro" nem sempre tem de ser associada à
morte.
A sua irmã relembra no prefácio deste livro, ao qual
chamaram “um Abanão na Vida entre os Solavancos do Metro”, a sua rotina desde
que a irmã deu entrada no Instituto de Oncologia de Lisboa e é um pedacinho
desse prefácio carregado de dor que transcrevo a seguir para que possa
despertar a vontade de devorar esta autobiografia com tanto a transmitir: «Há
um mês, mais ou menos, que a minha rotina era a mesma. Mecânica. Levantar às
7h30, despachar-me, engolir um iogurte, (…) entrar na faculdade, aulas durante
a manhã, (…) às duas a sandes ou a sopa no bar, despois fazer o resto da
Avenida de Berna até ao IPO, subir as escadas do pavilhão e ir ver a Ana,
pálida, magra, e a minha mãe ao lado, desolada, desesperada. (…) Naquele
momento tudo se tornou real, estava a acontecer-me, a mim, a ela. A Ana, a Ana
que eu me lembro do dia em que nasceu na casa de banho lá de casa e na correria
a que me obrigou para chamar a parteira da frente e o médico; a Ana que eu
procurei desesperadamente aos dois anos porque tinha atravessado, a gatinhar, para
o outro lado da estrada e estava a meio das íngremes escadas da vizinha da
frente; a Ana, teimosa, que insistiu, aos três anos, com um «não xaio» do meio
da rampa onde eu me lançava a velocidades vertiginosas até ao barracão dos
camiões, e tive de passar-lhe com a bicicleta por cima; a Ana a quem eu
pontapeava por baixo da cortina da camilha da cozinha, que servia de mesa de
refeições, só para a ouvir dizer «oh mãe olha lá ela» até que se mudou a
configuração dos lugares; a Ana que eu ajudava a atirar a comida do almoço pelo
cano do quintal, só para irmos brincar mais um bocadinho; a Ana, a Ana podia
morrer.»
Joana Teixeira, 10º CT4
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